A evolução complementa a criação

images[6]Donde veio o mundo? A resposta a esta questão divide a humanidade em diferentes grupos, dos quais os mais predominantes são aqueles que afirmam que o ente último ou primário do universo é a matéria, do qual, devido ao seu movimento caótico incessante surgiram os seres vivos, e pela evolução destes surgiu a consciência, ou seja o homem. Segundo este grupo, a matéria é eterna e a consciência só existe no homem.

No outro extremo estão os que acham que o ente último ou primário do universo é a consciência, da qual, procedeu a ideia de se criar a matéria e os seres vivos. Esta consciência que arquitectou o universo e que criou os seres vivos incluindo o homem é Deus. Segundo este grupo, Deus é que é eterno.

Há ainda um terceiro grupo intermédio, que aceita que a cada ente material existe uma ideia que lhe da forma. Este é o grupo dos idealistas. As vezes os idealistas inclinam-se a admitir que as referidas ideias estão em Deus, mas geralmente não definem exactamente onde estão estas ideias – coxeam entre a religião e o materialismo (ateísmo).

Esta forma de pensar alcançou o seu auge em Platão, discípulo de Sócrates e tutor de Aristóteles, – os filósofos mais celebres da Grécia. Portanto o idealismo é uma forma de pensar própria dos europeus ocidentais. Algumas religiões do Oriente partilham essa indefinição (Budismo).

Agora nós, os africanos e os semitas, somos os que achamos que no início havia a consciência que criou a matéria. Até aqui tudo bem, mas não podemos também deixar de admitir que a ideia da evolução não é estúpida. Aliás, todos nós, consciente ou inconscientemente acreditamos em ideias evolucionistas.

De facto o mundo é simultaneamente resultado da criação e da evolução – esta complementa aquela. Por exemplo, Deus fez o ser humano, mas as raças surgiram através de um longo processo evolutivo. Porque senão fosse assim a realidade da existência de várias raças humanas deitaria por terra abaixo a teoria teológica de que todos os seres humanos descendem de um só casal humano.

Certamente, submetidos a condições climatéricas e hábitos alimentares diferentes nos territórios em que foram habitar os primeiros humanos sofreram mudanças na sua pigmentação e nos genes, que resultou nas diferentes raças que existem hoje no mundo.

As provas materiais mais evidentes a favor da complementaridade da criação e da evolução é o surgimento de peixes (bagres e de cacussos) numa lagoa formada pela água da chuva num local sem comunicação com um rio, donde um peixe fêmea poderia ter emigrado para desovar naquela lagoa. Diante disto só há duas explicações possíveis: ou alguém trouxe um peixe fêmea ou casal de um rio e os colocou na lagoa e estes se reproduziram e então fica satisfeita a nossa visão simplesmente criacionista ou então, para alegria de Charles Darwin , temos que admitir que, o meio aquático sob a acção da luz do sol oferece condições para que hajam reacções químicas entre determinados sais minerais (elementos químicos) existente na terra acabando por produzir formas elementares de vida que se transformam em peixes.

Contudo para tuja surpresa, e de muitos, isto está conforme a ordem divina: “Produza as águas seres viventes”.

Na verdade do mesmo modo que a constatação de que a religião às vezes funciona como “o ópio do povo” não é uma descoberta de Karl Marx, pois Deus, através dos Profetas já tinha alertado diversas vezes para esse perigo.

Voltaremos a este assunto mais adiante (vide responsabilidade social do religioso); a teoria da evolução também não é uma descoberta do naturalista Charles Darwin. Ela já estava descrita no primeiro capítulo da Bíblia, apenas a visão unilateralista das pessoas é que lhes impedia de perceber que Deus criou os elementos químicos a partir do nada – Deus não nos disse quando, como e com quê criou os elementos químicos e as substâncias inorgânicas. A Bíblia apenas nos diz que: “No princípio Deus criou os céus e a terra” (cf. Genesis1:1). Mais nada!

Mas aos seres vivos a narrativa de Moisés sobre as origens da vida mostram claramente que ela surgiu, pela evolução, no meio aquático o que foi confirmado pela ciência: “No princípio Deus criou [os elementos químicos e substâncias inorgânicas], os céus e a terra, e a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a fase do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas [substância inorgânica]. Disse Deus: haja luz [energia] e houve luz, e viu Deus que era boa a luz e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou a luz dia e as trevas chamou noite, e foi a tarde e a manha o dia primeiro. E disse Deus: Haja uma expansão no meio das aguas, e haja separação entre aguas e aguas” (idem).

A ideia do surgimento expontâneo da luz (energia) no primeiro dia, “disse Deus: haja luz e houve luz”, faz lembrar a ideia da famosa explosão que, segundo os materialistas terá ocorrido há milhões de anos provocando a compressão da energia que deu lugar ao surgimento da matéria.

Depois de, no primeiro dia, ter criado os elementos químicos, as substancias inorgânicas, e a energia, no segundo dia, Deus procedeu “a separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão…juntem-se as águas debaixo do céu num lugar… ”. Fico a imaginar que foi neste momento que sob a acção do calor da luz, que Deus acabara de criar, parte da água evaporou-se indo constituir as primeiras nuvens, e com a diminuição da quantidade da água a terra emergiu.

Feito isto, estavam criadas as condições para que a própria criação produzisse, de forma autónoma, a vida. Repare que Deus que até ao versículo dez, utilizava o verbo haja, para criar algo, agora passa a usar o verbo produza: – “E disse Deus: Produza a terra, erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja, semente esteja nela sobre a terra. E assim foi…E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente, e voem as aves sobre a face da expansão dos céus, não é Deus que produz mas sim a terra, a água. E Deus criou [por intermédio da água e da terra] as grandes baleias, e todo réptil de alma vivente que as águas abundantemente produziram conforme as suas espécies, e toda ave de asas conforme a sua espécie… E Deus os abençoou dizendo: Frutificai, e multiplicai-vos, enchei, e enchei as aguas, nos mares, e as aves se multipliquem na terra…E disse Deus: Produza a terra alma vivente conforme a sua espécie, gado, e repteis, e besta da terra conforme a sua espécie.”. Portanto como vimos a criação dos seres vivos: erva, árvores, répteis, aves e bestas selvagens é um processo evolutivo, autónomo, que se deu no meio aquático e na terra.

No versículo vinte e seis, Deus volta a mudar de verbo: “Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança, e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. E a semelhança de todos os outros seres vivos Deus deu a capacidade de se reproduzir para perpetuar a espécie. Mas, ao contrário dos elementos químicos, e das substâncias inorgânicas que Deus simplesmente ordenou que aparecessem, do nada, utilizando o verbo haver, e a erva, as árvores e os animais que simplesmente ordenou que surgissem da água e da terra, utilizando o verbo produzir, ao homem Deus fez com as suas próprias mãos e soprou nele o Seu fôlego.

Ora “se não podemos aceitar de modo inquestionável que Deus tenha criado o ser humano, também não admitimos tranquilamente sermos descendentes dos macacos. Um ponto de inserção possível entre as duas teorias é a admissão de que Deus tenha criado o espírito do ser humano e a natureza seja a responsável pela evolução de sua parte física (o corpo)” (Cervo e Bervian, 2006, p.58) .

Portanto o corpo humano é animal, produto da evolução da matéria, e obedece a lei do determinismo natural. Por isso, do mesmo modo que todos os outros animais, o indivíduo sábio há-de dar ao corpo apenas o estritamente necessário: ar, água, alimentos, movimento, descanso e sexo (a partir de certa idade) e abster-se de todas substâncias nocivas ao corpo, tais como as drogas, lícitas ou ilícitas, nomeadamente: o álcool, o tabaco, a liamba, a cocaína, a cafeína, e todos outros produtos naturais ou artificiais com poder de afectar negativamente a sua saúde física e mental,

Ao fazer isto o indivíduo estará a cumprir, o que Alfred Montapert chama de leis da vida, nomeadamente: a lei da acção e reacção, do trabalho, do conhecimento, da atitude, da escolha, da sobrevivência, da naturalidade e simplicidade, etc.

Relativamente ao corpo espiritual, pois, como diz Apostolo Paulo se há um corpo animal então também existe o corpo espiritual, o sábio, através de livros e dos medias, há-de dar ao seu espírito apenas as ideias, os pensamentos e sentimentos positivos, e abster-se de todas ideias, pensamentos e sentimentos nocivos ao espírito, tais como a inveja, o ódio, a raiva, a preguiça, expor-se a pornografia, violência, etc.

Quanto a alma, ela emana da vida biológica do mesmo modo que a energia emana do movimento da matéria e o magnetismo resulta do movimento dos electrões. Todos os seres vivos têm alma. Há dois tipos de almas: a alma dos vegetais, que é estática e a alma animal, que é dinâmica. E do mesmo modo, que o magnetismo cessa quando a corrente eléctrica cessa, assim também, com a excepção da alma humana que alcança a eternidade pela interligação com o espírito que procede de Deus, as almas dos seres vivos cessam, quando estes morrem; ou seja, a corrente dos seus fluidos (a seiva e o sangue) cessa. Portanto, quando uma árvore ou animal morre as suas partículas materiais voltam a terra e a sua alma desaparece. O mesmo não acontece com o ser humana. Este, além da alma, recebeu de Deus um espírito, que após a morte do indivíduo volta a Ele, levando consigo a alma, ou é levado para o inferno pelos demónios; se hospedou, o Espírito Santo ou os demónios.

Luanda, Novembro de 2007

Serafim Quintino

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